Terapia Intensiva Moderna
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA
Douglas Ferrari
A
Insuficiência Respiratória Aguda ( IRpA ) trata-se de síndrome caracterizada na
incapacidade do Sistema Respiratória efetuar adequada trocas gasosas, ou seja,
captar oxigênio e eliminar CO2 da corrente sanguínea, também designada falência
Respiratória. ( Acute Respiratory Failure ). Estima-se que nos EUA haja
150.000 casos por ano com mortalidade de 50 a 70%. A DPOC, Broncopneumonia e a
Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo representam a maior causa.
A- Sinais e Sintomas
clínicos: dispnéia intensa ( FR > 35 ), cianose, alteração do nível de
consciência ( sonolência / torpor ), taquicardia ( FC > 100 ).
B- Exames laboratoriais:
PaO2 < 60 mmhg, PaCO2 > 50-55 mmhg, Saturação de O2 < 92%,
C- Condições correlatas:
doenças pulmonares ( BCP, SDRA, EAP ) ou sistêmicas ( choque séptico, IAM, IRA )
As condições definidas são
independentes podendo Ter um ou mais sinais e dados laboratoriais, porém o
diagnóstico e tratamento é predominante clínico. Ou seja, muitos paciente
desenvolvem IRpA em situações de boa manutenção de PaO2 e Saturação de O2 com
aporte de O2 suplementar.
IRpA: Quadro Sindômico, conjunto de sinais e sintomas clínicos. Medidas Imediatas preconizadas no SATI - Desobstrução, Oxigenioterapia, Decúbito - elevação, Oximetria.
“10 Mandamentos da IRpA, em
ordem de importância”
SINAIS / EXAMES |
RESULTADOS |
consciência |
Sonolência / torpor / coma |
Dispnéia |
Moderada / intensa |
Frequência respiratória |
> 35 |
Saturação de O2 |
< 90% |
PaO2 |
<60 mmhg |
PaCO2 |
> 50 -55 mmhg |
cianose |
Intensa +++ / ++++ |
Estado hemodinâmico |
Instável |
Aspecto Radiológico |
Hipersdensidade intensa e/ou bilateral |
PH |
< 7.35 ou > 7.45 |
A ventilação, realização do
volume corrente, estabelece a dinâmica e finaliza a através da intimidade
alveolar a perfusão dos gases para corrente sanguínea, relação V/Q alveolar( V:
ventilação Q: Perfusão ) . Três são os mecanismos que podem levar a falência do
Sistema Respiratório:
|
|
PaO2 |
PaCO2 |
A-a O2 |
I |
alveolocapilar |
< |
N ou < |
> |
II |
Ventilatória |
< |
< |
N |
III |
I+II |
< |
< |
> |
a)P(A-a): medida da diferença
da pressão artério-alveolar determina comprometimento na troca gasosa, com
diferença fisiológica aceitável até 10 mmhg.
P (A-a) = PAO2 – PaO2
Ou
P(A-a) = 2.5 + 0.21 x idade
Valor normal: ( 2.5 x 0.21x
idade )
b) Shunt:
Contaminação venosa, fração de débito cardíaco não oxigenado. Em pulmão
fisiológico corresponde a até 5%.
Qs/Qt = aceitável até 5%
|
Causas |
Exemplos |
A |
Vias Aéreas |
Asma, DPOC |
B |
Parênquima Pulmonar |
Pneumonia, SDRA, fibrose |
C |
Vascular |
Embolia Pulmonar, EAP |
D |
SNC |
AVC, meningite,encefalite |
E |
SNP |
Guillain-Barré, miastenia,tétano |
F |
Caixa Torácica e abdome |
Trauma, PO tóraco-abdominal |
O Diagnóstico da IRpA é clínico e não gasométrico.
Aspectos Clínicos
2- Dispnéia: sensação
subjetiva de falta de ar, ocorre associada a taquipnéia;
3- Taquipnéia:
Compensatória aumento da captação de O2 e eliminação de CO2, sendo esta de
resposta bulbar;
4- Saturação de O2: com o
advento da oximetria de pulso, a saturação periférica da hemoglobina (SpO2)
passou a ser importante método não invasivo para avaliação indireta da PaO2. Na
curva de dissociação da Hb, os valores decrescem concomitante a baixa da SpO2,
porém quando atingido valor menor que 90% ocorre que acentuada da PaO2.
5- PaO2: O oxigênio é
mantido dissolvido no sangue na proporção de 100ml de sangue para 20ml O2 ( ar
ambiente e Hb 15 g ). É fundamental identificara idade do paciente para
avaliação clínica dos dados gasométricos. O cálculo de PaO2 estimada pode ser
feitos:
a- Diminuição de reserva
pulmonar: 1 mmhg por ano após 60 anos;
b- Fórmula:
PaO2= 104 – (0.27 x idade)
ou
PaO2 = 100 – [(0.32x(idade)]
+- 5 mmhg
PaO2= 96 - (idade x 0,4 )
6- PaCo2: O Dióxido de
Carbono ou gás carbônico é produto de metabolismo celular ( metabólito ) na
formação de ATP mitocondrial em conjunto com a água. Em valores arteriais
normais atinge 35 a 45 mmhg, a elevação dos seus valores em pacientes com IRpA,
denota dificuldade de troca gasosa ou hipoventilação. Preditiva de mal
prognóstico, não se deve esperar alterações do PH para conduta onde em geral,
exceto em pacientes retentores crônicos, e associada a hipóxemia, indica
ventilação assistida.
7- Cianose: Coloração
azulada da mucosas e/ou pele. Ocorre no aumento da hemoglobina reduzida, com
pouco Oxigênio, aparecendo com Saturações por volta de 80%.
8- Hipotensão: o sistema
cardio-pulmonar possui relação fisiológica importante, não incomum as
descompesações respiratórias levam a cardiológicas e vice-versa.
9- Aspecto Radiológico: As
hiperdensidades traduzem alterações parenquimatosas pulmonares. A dificuldade
respiratória na sua maioria está relacionada com lesões extensas ou bilaterias.
10- PH: Medida da curva
logarítmica da concentração do hidroiônica ( H+ ) ou hidroxiônica ( OH-,
hidroxila ). As alterações de PH são graves e quando ocorrem, ultrapassam a
homeostasia do sistema tampão.
Curva da
dissociação oxigênio-hemoglobina.
Em
temperatura e PH fisiológicos.
|
PaO2 estimada |
97% |
97 mmhg |
90% |
60 mmhg |
80% |
45 mmhg |
Relação entre Saturação Arterial e PaO2
Entre as primeira medidas a
serem realizadas na hipótese de falência do Sistema Respiratório ou em
pacientes dispneícos graves deve ser:
1- Imediata
· Desobstrução (
abertura bucal, elevação da língua – guedel, aspirações;
· O: oxigenioterapia (
catéter, máscara, VMNI ou VMI );
· D: elevação de
decúbito;
· O: instalar
oximetria de pulso.
2- Estabelecer o diagnóstico
clínico e laboratorial de IrpA: Sobretudo clínico, nenhum exame complementar
deverá ser realizado se impuser risco ao paciente, o tempo pode ser importante.
Caso haja condições solicitar rotina laboratorial: gasometria arterial e
Radiologia torácica. A rotina bioquímica, enzimática e eletrocardiográfica pode
ser necessária.
3- Oxigenioterapia:
A oferta de oxigênio é
fundamental na hipoxemia, diminuição de O2 sanguíneo, e na hipóxia, diminuição
da O2 tecidual. A FiO2, fração inspirada de oxigênio, ofertada deve ser aquela
que proporcione saturação de O2 ideal para idade, no jovem 96%. Para baixas
frações, os catéteres, para altas frações as máscaras de nebulizações faciais
com ou sem reservatório, estas permitindo FiO2 até 100%. Para cálculo da FiO2
utiliza-se a fórmula:
FiO2 estimada: 20 + 4 x O2
ofertado
Exemplo: Catéter nasal 2l/min.
FiO2= ( 20 + 4x2 ) = 28%.
Máscara
facial 5l/min. FiO2=( 20 + 4x5 ) = 40%
A gasometria é necessária para
avaliação de PH e PaCO2. Em relação à gasometria arterial, pode ou não haver
distúrbio ácido-básico instalado. Na acidose respiratória o Ph estará baixo ( <
7.35 ) e com retenção primária de Co2 indicando hipoventilação. Na alcalose
respiratória o ph estará alto ( > 7.5 ) e com diminuição primária do CO2
indicando hiperventilação. Protanto o evento respiratório é definido através do
ph e CO2
3- Assistência Ventilatória:
Caso confirme, impõe-se a Assistência Ventilatória Invasiva ( VMI )ou Não
Invasiva ( VMNI ). A VMI é efetuada em situações inclusive protetora, e sempre
indicada com glasgow < ou igual a 8 em quadros agudos. A VMNI deve ser tentada,
contra-indicada em pacientes inconscientes e com pneumotórax não drenado.
4- Desobstrução da vias
aéreas: verificar através de ambu se há obstrução importante. Aspirar qualquer
conteúdo presente. Retirar próteses e se necessário manter guedel provisório em
paciente sem previsão de intubação.
6- Decúbito elevado: a
elevação do decúbito favorece a contração diafragmática o qual desce ao
contrair.
7- Oximetria de pulso: é dado
indicativo de oxigenação sanguínea, porém pode não ser tecidual. A oximetria
dentro dos valores normais indica boa troca gasosa pulmonar desde que a fiO2
esteja entre 20 a 40%. Valores de saturação normais não excluem ventilação
mecânica. Independente da idade, ou suplementação de O2, valores abaixo de 90%
indicam sério comprometimento na troca e oxigenação a nível pulmonar.
Oximetria de Pulso: A medida da Saturação Periférica de O2 é grande aliada, porém complementar.
Diagnóstico etiológico
Quais os possíveis
diagnósticos que levam à IrpA? Muitas são as causas do comprometimento
respiratório e/ou ventilatório. É fundamental reconhecer tratar-se de causa
pulmonar ou extra-pulmonar. Para as doenças pulmonares a exclusão de
procedimento cirúrgico no pneumotórax ou derrame pleural restritivo .
Pulmonares: BCP – fibrose –
enfisema avançado – pneumotórax
Cardiológicas: choque – EAP -
IAM
Neurológicas: AVC – TCE – Coma
Renal: IRA – IRC
Metabólicas: DM ( cetoacidose
diabética )
Infecciosa: sepses – meningite
– BCP
Outras: transfusões – embolias
– aspirações
Índices Respiratórios:
São Índices amplamente
utilizados para avaliação respiratória, entre eles:
· PO2/FiO2 : Relação
entre oxigenação e necessidade de oxigenioterapia suplementar, < 200 indica
impossibilidade de desmame e lesão pulmonar grave;
PaO2/FiO2 |
Indica |
>300 |
Normalidade |
200-300 |
Lesão Pulmonar Aguda ( LPA ) |
<200 |
Grave Lesão Pulmonar ( SARA ) |
· Tobim: Índice de
Respiração Superficial (IRS ), ou seja, FR / VC;
· Outros: Índice de
Dispnéia ( Haesbich )- volumes , Padrão de Respiração Voluntária ( PRV ) tempos
inspiratórios e expiratórios.
Após atendimento incial,
pacientes dispneícos moderados a grave devem ser encaminhasdos para UTI e, além
da oxigenioterapia, algumas medicações podem ser utilizadas no tratamento da
IRpA. Dentre os antibióticos mais utilizados nas infecções pulmonares em UTI
temos as cefalosporinas de terceira geração com ceftriaxone ( Rocefin ),
aminoglicosídeos ( amicacina ), quinolonas ( ciprofloxaxina ), ampicilina/sulbactam
( Unasyn ). Nos imunodeprimidos avaliar a possibilidade de infecção oportunista
como fungos e P.Carini.Nos broncoespamos indicamos inalação com
broncodilatadores e a utilização de corticóide como hidrocortisona ( flebocortid
) e aminofilina ( broncodilatador ) endovenosa fica a critério do grau do
comprometimento. É contra-indicada a utilização de sedativo em pacientes
dispneícos. Ao evoluir para ventilação mecânica invasiva a sedação e, à
critério, analgesia, deve ser imediatamente instalada. Em situações graves, a
indução do coma deve ser realizada.
Portanto a IRpA é a falência
do sistema respiratória incapaz de manter a ventilação e manutenção de troca
gasosa. O organismo estabelece vários mecanismos compensatórios, porém a
intervenção antecipada evitando danos a outros órgãos e melhorando o
prognóstico com medidas inicias e permitir a evolução grave apenas em casos
inevitáveis, estabelece o papel definitivo do intensivista.
DVM: Distúrbio Ventilatório Momentâneo
INV: Índice Neuro-Ventilatório Cálculo On-Line INV( clique )
IDV: Índice de Desmame Ventilatório Cálculo On-LIne IDV ( clique )