INTERDISCIPLINARIDADE CRESCE NA PÓS-GRADUAÇÃO BRASILEIRA

 

Matéria: Site da CAPES

 "acredita que a formação multidisciplinar ou interdisciplinar é essencial e imprescindível, por exemplo, nos cursos de mestrado profissional, onde geralmente se lida com agregação de valor ao profissional que irá atuar no mercado e não na carreira acadêmica" ( Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro )

 

Prof.Dr. Renato Janine Ribeiro

Foto: Folha SP

Faltaram cadeiras para acomodar o grande número de interessados em assistir ao debate Interdisciplinaridade na pós-graduação brasileira nesta quarta-feira, 19, na 58ª Reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O representante do comitê de área multidisciplinar da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Carlos Nobre, coordenou o encontro.

Nobre apresentou uma evolução do cenário da área multidisciplinar no sistema de pós-graduação. Atualmente, são 177 cursos de mestrado, doutorado e mestrado profissional e é a maior área da Capes. No período de 1996 a 2004, o número de mestrados passou de 25 para 130 cursos. No mesmo período, os cursos de doutorado aumentaram de sete para 32.

Para Nobre, não resta a menor dúvida de que é possível formar doutores com mais de uma formação. 'Um grande desafio é se nós conseguimos formar doutores que cruzem as fronteiras interdisciplinares. Esse é o grande salto. Esse é o caminho", prevê. Segundo ele, a Capes e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) têm criado políticas para apoiar pesquisas interdisciplinares. "Em 2005, a Capes apoiou mais de 50 eventos inter e multidisciplinares", disse.

A interdisciplinaridade busca a interação entre diferentes disciplinas construindo um novo conhecimento comum a todos. Com relação à interdisciplinaridade na graduação, Nobre acredita que é um ponto que merece mais reflexão. "A graduação nas universidades brasileiras está caminhando para a interdisciplinaridade. É desejável que ela assim o faça", acredita.

Por meio de uma mensagem gravada, o diretor de Avaliação da Capes, Renato Janine Ribeiro, esclareceu alguns pontos e propôs questionamentos. Segundo Janine, algumas das áreas em que a pós-graduação brasileira está concentrada como direito, administração, e ciências sociais aplicadas, são fortemente interdisciplinares. "Em certas áreas a formação deve ser dentro dela própria. Enquanto em outras, pode ser positivo o intercâmbio pela rica contribuição que possa ser dada", explica. Ele acredita que a formação multidisciplinar ou interdisciplinar é essencial e imprescindível, por exemplo, nos cursos de mestrado profissional, onde geralmente se lida com agregação de valor ao profissional que irá atuar no mercado e não na carreira acadêmica.

Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), Arlindo Philippi Júnior; atuar com interdisciplinaridade exige muita coragem para sair de um espaço já conhecido e entrar em um campo novo, disputando espaço. Além disso, acredita que a experimentação é maior e mais exigida na área multidisciplinar, porque são campos novos. "Demora muito mais tempo para montar uma pesquisa interdisciplinar. Como fazer que certas pesquisas terminem em dois anos e meio, que é o tempo do mestrado? ", indaga.

Os integrantes do debate apresentaram pontos-de-vista, aspectos conceituais e diferentes opiniões. Carlos Nobre espera que a discussão continue tanto no âmbito da SBPC - que tem como tema nesta 58ª Reunião Anual, Ciência e Tecnologia: Semeando Interdisciplinaridade -, quanto no âmbito da Capes com a participação da comunidade acadêmica.

Também participaram do encontro aberto a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP, Augusta Thereza de Alvarenga; o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Dimas Floriani; o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Hector Ricardo Leis, e a pesquisadora do museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), do Rio de Janeiro, Heloísa Domingues.(Fátima Schenini)