22/09/2005

Leia entrevista com Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria

Da Redação da UOL

Reprodução

Dr. Zinho

Wellington Nogueira foi o primeiro "besteirologista" brasileiro. Ele fundou o grupo "Doutores da Alegria" em 1991, após fazer parte de uma turma de palhaços que realizava um trabalho semelhante em Nova York, nos EUA. Aqui no Brasil, ele é o palhaço Dr. Zinho.

Em entrevista exclusiva ao UOL Crianças, Nogueira falou sobre a arte de ser palhaço, contou a história do grupo e comentou sobre o filme e outros projetos dos "besteirologistas".

UOL CRIANÇAS - Como surgiu o grupo Doutores da Alegria?
Wellington Nogueira - Eu era ator e sempre gostei de fazer graça e trabalhar como palhaço. Aí um dia eu conheci dois palhaços que trabalhavam dentro de um hospital, nos Estados Unidos. Quando vi uma criança doente rir e se divertir, fiquei emocionado e quis aprender a fazer isso também. Aprendi e gostei tanto que resolvi trazer essa idéia para o Brasil. Então dei o nome de Doutores da Alegria para o grupo e de besteirologista para o palhaço que trabalha no hospital.

UOL CRIANÇAS - O grupo consegue mudar o clima dos hospitais em que atua?
Wellington Nogueira - A gente sabe que ficar doente não é legal, mas toda criança, até mesmo quando está doente, tem uma coisa muito especial: ela tem vontade de brincar e de ser criança. Isso é a coisa mais bonita que a gente percebe no nosso trabalho.
Quando a criança brinca com a gente ela se sente melhor e faz todo mundo em volta dela se sentir melhor também: os pais, os médicos, as outras crianças. É como se ela pudesse voltar a se criança de novo, mesmo estando dentro de um hospital.

UOL CRIANÇAS - Todo mundo gosta de vocês? Tem criança que tem medo de palhaço...
Wellington Nogueira - Tem criança que tem medo mesmo. Tem também criança que já falou que não gosta mas acaba gostando. Muitas vezes, quando a criança fala que não gosta ou que tem medo de palhaço é porque ela já tomou algum susto antes ou teve uma experiência ruim. A gente respeita isso: se a criança não gosta, não forçamos a barra. Mas como a gente vai duas vezes por semana a cada hospital, às vezes elas vêem a gente com outras crianças e vão ganhando confiança, chegando perto, brincando também. Mesmo quando a criança chora é bom, porque é um jeito dela expressar o que está sentindo.

UOL CRIANÇAS - Teve algum caso que te marcou?
Wellington Nogueira - Uma vez aconteceu uma coisa bonita na UTI. Éramos uma dupla de palhaços, eu e um outro que tocava violão. A gente estava tocando uma música para a criança, aí o médico chegou e falou "Olha, um violão! Me empresta ele aí". Aí ele pegou o violão e começou a tocar um rock para a criança. Ela adorou, nunca tinha visto o médico fazendo isso, nem sabia que ele gostava de rock. Aquela criança e aquele médico estavam se relacionando como pessoas, não mais como médico e paciente.

UOL CRIANÇAS - O que há de mais importante no palhaço?
Wellington Nogueira - A capacidade de rir de si mesmo e não ter medo de ser ridículo.

UOL CRIANÇAS - O que há de mais legal no palhaço?
Wellington Nogueira - Como as crianças, o palhaço não quer saber do que ainda vai acontecer - ele gosta de viver o que está acontecendo naquele momento. Também é legal ele poder falar e fazer coisas que as pessoas que não são palhaços não podem.

UOL CRIANÇAS - E o que há de mais difícil em ser palhaço?
Wellington Nogueira - O mais difícil é não achar que se sabe tudo. O palhaço tem de aprender e criar sempre. Tem palhaço que faz uma bobagem que é muito engraçada, aí ela pensa "pronto, descobri a fórmula do sucesso, vou fazer isso a vida inteira". O mais difícil é não cair nesta tentação.

UOL CRIANÇAS - Você acha que as crianças devem ver o filme "Doutores da Alegria"?
Wellington Nogueira - Meu filho de seis anos, quando assistiu o filme, disse que gostou dos palhaços, mas não das partes em que as pessoas ficam falando. Eu acho que é um filme apenas para crianças mais velhas. O barato dele é lembrar os adultos do que é ser criança. As crianças já sabem isso, mas pode ser que as mais velhas estejam esquecendo... e elas também precisam ser lembradas!

UOL CRIANÇAS - Vocês têm outros projetos para crianças?
Wellington Nogueira - Temos um projeto de teatro infantil chamado "Brincando de Médico", para São Paulo. Em Recife, estréia em outubro a temporada teatral da peça "Poemas Esparadrápicos", no Sesc.