'A ENFERMAGEM É O QUE REALMENTE CUIDA DA PESSOA', DIZ PROFISSIONAL

Enfermeiras que gostam de atuar com doentes de risco.
Elas falam como é lidar com a morte tão perto

12/12/2006 - GLOBO.COM
 
Luísa Brito, do G1, em São Paulo
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Foto: Divulgação

Maria Tereza conversa com paciente internada

Lidando com pacientes de alto risco, duas diferentes Marias, ambas enfermeiras de setores de alta gravidade de grande hospitais de São Paulo, trabalham minuto a minuto tentando salvar vidas e confortando parentes de pacientes graves.

O fato de lutar contra a morte diariamente e, algumas vezes, sair perdendo da briga, não fez, até hoje com que nenhuma das duas pense em deixar a profissão. “O maior prazer que tenho é ver um paciente que chegou muito grave, deixar o hospital recuperado”, diz Maria Amélia Nogueira, 31, encarregada do pronto de socorro da maior emergência pública da América Latina, o Hospital das Clínicas de São Paulo.

Maria Tereza Odierna, 48, que chefia a
enfermagem da equipe de transplantes e foi por 11 anos coordenadora da UTI do Hospital Albert Einstein, um dos mais respeitados centros de saúde privados da América Latina, diz que não saberia fazer outra coisa a não ser “cuidar de gente” e que a maturidade ajuda a pessoa a lidar melhor com a morte. “Muitas vezes chorei abraçada à família”, diz. “Já tive até vontade de fugir de situações de ter de contar sobre a morte, mas temos que fazer isso, até por solidariedade humana”, acrescenta.

Maria Amélia diz que escolheu a emergência porque gosta da agitação do pronto-socorro e o setor lhe faz aprender muito. “A correria nos ajuda a adquirir muita habilidade e assim podemos cuidar melhor das pessoas”, comenta.

Já Maria Tereza, conta que escolheu a terapia intensiva e agora o setor de transplantes pela a chance de ter maior contato com os doentes. “A UTI é o lugar onde o enfermeiro está mais próximo do paciente. A enfermagem é que realmente cuida da pessoa, o médico cuida da doença”, diz ela. “A gente ouve o paciente no momento de angústia, faz o curativo, dá o remédio certo. Ficamos ali com eles”, completa.

O trabalho na UTI, o fato de ter aprendido a lidar com famílias em situações sensíveis como a morte, a levou para o setor de transplante, onde começou a atuar com a abordagem de parentes de possíveis doadores, um trabalho difícil, mas necessário, avalia.

“É uma perda de energia muito grande. Você chegar para um pai e uma mãe e dizer que o filho deles, de 18 anos, está com morte cerebral e eles olharem para o monitor [aparelho do hospital] e verem o coração batendo, sem acreditar na morte... é difícil”, conta. Segundo ela, o que a encorajava era pensar que os órgãos de uma pessoa podem salvar outras sete, com a doação dos dois rins, do coração, do fígado, do pâncreas e das córneas.

Apesar de ter uma função mais administrativa, na qual coordena uma equipe de 80 funcionários, faz relatórios, planejamentos, e vai a reuniões, Tereza diz que não deixa de ter contato com os pacientes, em geral os que esperam por um transplante, visitando os quartos para conversar e dar orientações. “Preciso fazer isso para me sentir enfermeira”, diz.