Maria Tereza conversa com paciente internada
Lidando com pacientes de alto risco, duas diferentes Marias, ambas
enfermeiras de setores de alta gravidade de grande hospitais de São Paulo,
trabalham minuto a minuto tentando salvar vidas e confortando parentes de
pacientes graves.
O fato de lutar contra a morte diariamente e, algumas vezes, sair perdendo
da briga, não fez, até hoje com que nenhuma das duas pense em deixar a
profissão. “O maior prazer que tenho é ver um paciente que chegou muito
grave, deixar o hospital recuperado”, diz Maria Amélia Nogueira, 31,
encarregada do pronto de socorro da maior emergência pública da América
Latina, o Hospital das Clínicas de São Paulo.
Maria Tereza Odierna, 48, que chefia a
enfermagem da equipe
de transplantes e foi por 11 anos coordenadora da UTI do Hospital Albert
Einstein, um dos mais respeitados centros de saúde privados da América
Latina, diz que não saberia fazer outra coisa a não ser “cuidar de gente” e
que a maturidade ajuda a pessoa a lidar melhor com a morte. “Muitas vezes
chorei abraçada à família”, diz. “Já tive até vontade de fugir de situações
de ter de contar sobre a morte, mas temos que fazer isso, até por
solidariedade humana”, acrescenta.
Maria Amélia diz que escolheu a emergência porque gosta da agitação do
pronto-socorro e o setor lhe faz aprender muito. “A correria nos ajuda a
adquirir muita habilidade e assim podemos cuidar melhor das pessoas”,
comenta.
Já Maria Tereza, conta que escolheu a terapia intensiva e agora o setor de
transplantes pela a chance de ter maior contato com os doentes. “A UTI é o
lugar onde o enfermeiro está mais próximo do paciente. A enfermagem é que
realmente cuida da pessoa, o médico cuida da doença”, diz ela. “A gente ouve
o paciente no momento de angústia, faz o curativo, dá o remédio certo.
Ficamos ali com eles”, completa.
O trabalho na UTI, o fato de ter aprendido a lidar com famílias em situações
sensíveis como a morte, a levou para o setor de transplante, onde começou a
atuar com a abordagem de parentes de possíveis doadores, um trabalho
difícil, mas necessário, avalia.
“É uma perda de energia muito grande. Você chegar para um pai e uma mãe e
dizer que o filho deles, de 18 anos, está com morte cerebral e eles olharem
para o monitor [aparelho do hospital] e verem o coração batendo, sem
acreditar na morte... é difícil”, conta. Segundo ela, o que a encorajava era
pensar que os órgãos de uma pessoa podem salvar outras sete, com a doação
dos dois rins, do coração, do fígado, do pâncreas e das córneas.
Apesar de ter uma função mais administrativa, na qual coordena uma equipe de
80 funcionários, faz relatórios, planejamentos, e vai a reuniões, Tereza diz
que não deixa de ter contato com os pacientes, em geral os que esperam por
um transplante, visitando os quartos para conversar e dar orientações.
“Preciso fazer isso para me sentir enfermeira”, diz.