Editorial: A individualidade da Vida. »»»
Nova lei permite que
pessoas decidam não prolongar sua vida.
( texto na íntegra - Folha ).
Da Efe
Em Londres
O governo britânico apresentou hoje, sexta-feira, uma lei
que permite, pela primeira vez, que as pessoas decidam com antecedência se
querem ou não que sua vida seja prolongada, caso venha a sofrer de uma doença
grave e estar mentalmente incapacitado.
Embora o Executivo insista que a lei de Capacidade Mental não tem nada a ver
com a legalização da eutanásia, se legaliza as chamadas "heranças em
vida"; ou seja, o possibilidade de as pessoas determinar, ainda sãs, como
querem ser tratadas caso adoeçam gravemente e percam a capacidade de decisão.
Na prática, isto significa que as pessoas poderão
decidir que sua vida não deve ser prolongada com tratamentos médicos quando
estiverem morrendo.
"O objetivo principal da lei - explicou à EFE um porta-voz do Ministério
de Assuntos Constitucionais - é regularizar a situação de milhares de idosos,
para que, caso venham a perder totalmente a razão, fique clara sua
vontade".
Embora este seja o maior problema considerado pela administração, a
legislação incorpora casos mais gerais e permite que qualquer cidadão
determine como quer ser tratado no caso de sofrer uma lesão cerebral, ficar
incapacitado mentalmente ou desenvolve doenças como a demência.
No caso das pessoas nascidas incapacitadas, atualmente, estão nas mãos dos
serviços de proteção, mas esta lei estabelece que o direito deles de decidir
"até onde podem ir" deve ser respeitado, segundo o porta-voz.
Atualmente, os tribunais do Reino Unido já reconhecem a validade das
"heranças", mas a nova lei inaugura um âmbito legal até agora
inexistente que, além disso, ampara os que cuidam dos doentes, que às vezes têm
problemas legais por tomarem decisões em nome do deficiente.
Até este momento, a lei britânica autorizava as pessoas a designarem
representantes para seus assuntos financeiros, mas com o novo texto elas poderão,
além disso, nomear pessoas para decidir por eles quanto a
questões médicas e de bem-estar.
Por outro lado, a legislação, que foi recebida com receio pela oposição
conservadora, transforma em delito, punível com até cinco anos de prisão, a
negligência ou os maus-tratos às pessoas deficientes.
"Em algum momento de nossas vidas, todos nos vemos afetados pela
incapacidade de tomar decisões, seja pessoalmente ou porque alguma pessoa próxima
perde a capacidade de decidir", afirmou o secretário de Estado de Assuntos
Constitucionais, Lord Filkin.
Agora não existe um âmbito legal claro que proteja e oriente cuidadores,
familiares e profissionais - prosseguiu -, por isso as pessoas incapacitadas
"podem se ver excluídas da tomada de decisões e inclusive podem podem ser
cometidos, enquanto que os cuidadores podem ser alvo de críticas e acusações".
A nova lei, segundo o Secretário de Estado, pretende refletir uma "mudança
cultural na maneira de se tratar as pessoas que perderam a capacidade" de
decidir, que, neste país, totalizam cerca de dois milhões.