O Menino Jheck : Grande Lição de Vida ...

Jheck Brenner de Oliveira, O MENINO JECK, 6 anos, vive em Franca-SP, "não fala", "não se move", "não se alimenta", "não se comunica". Portador de doença degenerativa crônica, permanece vivo em condições de total dependência. No sentimento aflito do pai, surge a ambiguidade. No amor e no sentimento humano, surge a esperança .


( " Se eu não te amasse tanto assim, vivesse na escuridão... Ivete Sangalo )

Homenagem a JHECK e sua família que acredita no céu, nas estrelas, no amor  e no criador ...  (ouvir ) >>

Meu coração sem direção...Voando só por voar... Sem saber onde chegar... Sonhando em te encontrar ... E as estrelas  ... que hoje eu descobri no seu olhar .... As estrelas vão me guiar ...  Se eu não te amasse tanto assim ...  Talvez perdesse os sonhos ...  Dentro de mim e vivesse na escuridão .... Se eu não te amasse tanto assim ... Talvez não visse flores por onde eu vi .... Dentro do meu coração ... Hoje eu sei... eu te amei no vento de um temporal ... Mas fui mais... muito além ... Do tempo do vendaval ... Nos desejos... Num beijo que eu jamais provei igual ... E as estrelas dão um sinal ... Se eu não te amasse tanto assim  ... Talvez perdesse os sonhos .... Dentro de mim e vivesse na escuridão .... Se eu não te amasse tanto assim .... Talvez não visse flores por onde eu vi .... Dentro do meu coração...

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Foto - Revista Isto É - JHECK e seu Pai.

C R O N O L O G I A

 

31/08/2005

Pai vai pedir à Justiça a eutanásia do filho

MARCELO TOLEDO
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto



Alegando estar "cansado de sofrer" e após ter conhecimento de que o quadro de saúde de seu filho de quatro anos é irreversível, o recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de Franca (interior de São Paulo), afirmou que vai à Justiça pedir autorização para realizar eutanásia na criança.

Internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed, Jhéck Breener de Oliveira tem uma rara doença degenerativa do sistema nervoso central, segundo o diretor clínico e chefe do CTI infantil do hospital, Luís Fernando Peixe. Não há chance de recuperação.

Para o pai, somente a eutanásia --prática proibida no país pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável sem dor ou sofrimento-- resolverá a dor do filho. A mãe do menino, R.S.S. (ela não quer ter seu nome revelado), 22, é contra. O caso foi revelado ontem pelo jornal "Comércio da Franca".

O pai já tentou invadir duas vezes o CTI para desligar os aparelhos, mas foi contido por seguranças do hospital. Agora, quer usar como argumento para conseguir a autorização o caso da norte-americana Terri Schiavo, 41, que neste ano teve desligados os aparelhos que a mantinham viva, após batalha judicial entre o marido dela e os pais.

"Ninguém sabe o que passo. É um sofrimento que não tem fim. Sei que a eutanásia é proibida no Brasil, mas vou até o fim porque não agüento ver meu filho sem sorrir, brincar ou caminhar", afirmou o pai, que não visita o filho há três meses, por "não suportar vê-lo naquela situação".

A síndrome metabólica degenerativa paralisou o corpo da criança e, por isso, há quatro meses ela não deixa o hospital, onde deve continuar até o fim da vida.

O garoto, que completará cinco anos em 21 de setembro, é alimentado por meio de sonda e respira com o auxílio de aparelhos. Jhéck não enxerga, não fala e não movimenta o pescoço, as pernas ou os braços. O quadro é irreversível, de acordo com o diretor do CTI.

Peixe explicou que a criança nasceu com deficiência de uma enzima, que não deixa o cérebro funcionar corretamente. "Como falta a enzima, as células vão enfraquecendo e degenerando. E a doença só se manifestou com quase dois anos [de idade]. É uma doença rara."

"Não tenho mais fé em Deus nem forças para ver o meu filho. Não o visito não é porque não quero, é porque não consigo vê-lo jogado numa cama de hospital."

Segundo o advogado de Oliveira, Marcos Antônio Diniz, o pedido judicial deve ser protocolado em no máximo 15 dias. "Precisamos só de um documento do hospital de Franca e de um outro hospital." Para Oliveira, se o marido de Terri Schiavo conseguiu o seu objetivo nos EUA, é possível que ele consiga no Brasil.

Colaborou KATIUCIA MAGALHÃES, da Folha Ribeirão
 

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31/08/2005

Mãe acampa em hospital e luta pelo filho

KATIUCIA MAGALHÃES
enviada especial da Folha de S.Paulo a Franca


"Eu sou a favor da vida. Meu filho pode perder um braço, uma perna. Pode ficar deformado. Eu nunca deixarei de estar ao lado dele", disse a costureira R.S.S., 22, mãe de Jhéck Breener de Oliveira, que há quatro meses vive no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed em Franca.

A mãe disse que a discussão sobre a eutanásia foi um dos motivos que a levaram a se separar do recepcionista Jeson de Oliveira, 35. Em entrevista à Folha, ela afirmou não saber por que o ex-marido quer desligar os aparelhos que mantêm o filho deles vivo.

"Não sei o que passa na cabeça dele. Só Deus para saber. No primeiro mês que o Jhéck estava internado, ele [marido] veio aqui no hospital e tentou desligar os aparelhos", disse. O hospital proibiu a entrada de Oliveira no CTI.
R.S.S. afirma que Jhéck era um bebê normal até os nove meses, quando seu desenvolvimento ficou mais lento. A conselho médico, a mãe levou o menino à Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). "Ele [Jhéck] fez a triagem e começou a fazer várias atividades, como fisioterapia, fonoaudiologia e ecoterapia."

O menino começou, então, a engatinhar, falar e, aos dois anos, andou pela primeira vez. A mãe conta que, aos três anos, Jhéck teve as primeiras convulsões, desmaios e uma parada cardiorrespiratória. No dia 27 de abril deste ano, a criança foi internada sem previsão de alta.

"Ele passou a ter insuficiência respiratória e teve de ser auxiliado por aparelhos. Além disso, tem que se alimentar por meio de uma sonda. Eu tenho muitos medicamentos e outros aparelhos em casa, mas não são suficientes para manter o Jhéck. Com ele em casa, eu não dormia. Aqui, eu sei que ele está sendo bem cuidado."

R.S.S. afirma que teve de lutar pelo tratamento de Jhéck sem ajuda do marido. Após a separação, ela se mudou para uma casa de aluguel, cujo valor é R$ 150. Atualmente, mãe e filho vivem com o auxílio de desconhecidos e fiéis da Igreja Católica que a família de R.S.S. freqüenta.

De acordo com ela, as doações pagam seu aluguel, sua comida e os remédios do filho. "Até uma cadeira de rodas para ele eu consegui por meio de doações", afirmou.

A mulher afirma temer a atitude do marido e disse estar surpresa com suas declarações ao jornal "Comércio da Franca", que publicou ontem uma reportagem sobre a vontade que Jeson tem de conseguir a eutanásia para o filho. "Eu tenho medo. Meu filho é uma criança muito especial. Ele [Oliveira], como pai, teria de dar apoio ao filho."

 

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01/09/2005

Pai recebe apelos contra eutanásia do filho

MARCELO TOLEDO
enviado especial da Folha de S.Paulo a Franca



Pelo menos 40 pessoas ofereceram ontem, pessoalmente e por telefone, ajuda financeira e espiritual à família do garoto Jhéck Breener de Oliveira, 4, que está internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Unimed, em Franca (interior de São Paulo), com uma doença degenerativa incurável.

O objetivo da maioria é convencer o pai do menino, o recepcionista Jeson de Oliveira, 35, a desistir de tentar obter uma autorização judicial para realizar a eutanásia no filho. A doença já fez com que o garoto perdesse a fala e os movimentos do pescoço, das pernas e dos braços. Ele também não enxerga e não se alimenta por via oral. O quadro é irreversível, segundo os médicos.

A eutanásia, prática que consiste na abreviação de forma indolor da vida de um paciente incurável , é proibida no Brasil.

Há pessoas também que oferecem informações de tratamento. É o caso do engenheiro civil Luís Fernando Laves, 39, de São João da Boa Vista (SP). Ele ligou ontem para jornais e para o hospital de Franca a fim de informar que há um centro especializado em doenças degenerativas em San Diego, nos Estados Unidos.

"Fiquei emocionado ao ler a reportagem. Procurei na internet e achei o centro de San Diego, que tem pesquisas importantes."

A maior parte das pessoas se revoltou com a idéia de eutanásia. Grupos religiosos e até mesmo o bispo de Franca, dom Diógenes Silva Matthes, iniciaram uma "pressão" para que o recepcionista desista de tentar obter a autorização judicial.

Segundo o bispo de Franca, que ontem tentou um encontro com a família --não concretizado porque o pai viajou--, a postura de Oliveira está errada. "Quero demovê-lo dessa idéia. A mãe não quer [a eutanásia]. E que direito ele tem de matar o próprio filho?"

Mas não é só na Igreja Católica que a decisão de Oliveira encontra oposição. O pastor Jonatas Barbosa Rodrigues, da Igreja Presbiteriana Filadélfia de Franca, disse que a posição da igreja é "contrária à eutanásia de forma radical". "Quero conversar com o pai e tirar isso da cabeça dele", afirmou.

Assustada, R.S.S., 22, mãe de Jhéck, não foi ontem ao hospital para passar o dia com o filho, como faz diariamente. Ela deixou o emprego de costureira porque não sabe quando tempo a criança viverá e quer ficar com ela o máximo possível. R.S.S. não quer ter seu nome divulgado.

Para o pai, que se afastou do emprego em uma fábrica de calçados, nem mesmo a união de representantes religiosos contra a idéia o fará mudar de opinião.

"Minha vida acabou. Estou quase para dar um tiro na cabeça. Não creio mais em Deus. Mesmo assim, oro todas as noites pedindo que Deus devolva a vida de meu filho ou o leve embora", disse Oliveira, que afirma não suportar mais ver a dor do filho.

 

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02/09/2005

Médico defende fim do tratamento de Jhéck

da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto


O médico Marco Aurélio Guimarães, 35, diretor do Centro de Medicina Legal e docente de bioética da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, defendeu o direito de o recepcionista Jeson de Oliveira, de 35 anos, pleitear judicialmente a morte do filho Jhéck Breener de Oliveira, 4.

De acordo com o especialista, o pai não quer o homicídio do filho, mas o término do sofrimento da criança. "A suspensão do esforço terapêutico é uma situação que não vejo com ressalvas. Se é a vontade de Deus que ele viva, ele viverá. Se não for a vontade de Deus, ele não viverá. Se ele morrer, essa não terá sido a vontade divina?", questionou o médico.

Jhéck, internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed, em Franca (SP), sofre de uma doença degenerativa do sistema nervoso central que já fez com que ele perdesse a visão, a fala e os movimentos do pescoço, dos braços e das pernas. Ele apenas se alimenta por meio de sondas e respira com o auxílio de aparelhos.

O médico e professor da USP afirmou, no entanto, ser contrário à eutanásia --que, para ele, se configura homicídio.

O infectologista Caio Rosenthal já defendeu a ortotanásia --o ato de cessar a utilização de recursos que prolonguem artificialmente a vida quando não há mais chances de recuperação.

Para o especialista do HC, como há impasse no pátrio poder sobre a decisão a ser tomada --o pai quer a eutanásia, mas a mãe, não--, o caminho judicial é a alternativa que resta a Oliveira. "Nenhuma religião tem o direito de impor suas condutas a quem quer que seja, já que o Brasil é um país livre. Não se trata de o pai querer o homicídio, mas o curso natural da vida biológica do filho. A suspensão do esforço terapêutico é uma saída."

Ele disse esperar coerência da Justiça. "Em uma análise fria, ele até ocupa o espaço de outros pacientes que podem ser recuperados. Não se trata de crueldade, mas de uma visão fria. Não podemos ser arrogantes e achar que a ciência pode tudo hoje, porque isso é brigar com o inevitável."

O presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Isac Jorge Filho, disse à Folha também ser totalmente contrário à eutanásia, prática proibida pela legislação brasileira pela qual se busca abreviar a vida de um doente incurável, sem dor ou sofrimento. Oliveira reafirmou ontem que só a eutanásia cessará a dor do filho.

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3/09/2005

Mãe de garoto afirma que perdoa ex-marido que defende eutanásia

MARCELO TOLEDO
Enviado da Folha a Franca
 


A costureira desempregada R.S.S., 22, mãe de Jhéck Breener de Oliveira, 4, disse que perdoa o seu ex-marido, o recepcionista Jeson de Oliveira, 35, pelo fato de ele querer autorização judicial para realizar a eutanásia no filho, cujo quadro clínico é irreversível.

R. afirmou também que a perda do pai há 12 dias --que morreu de mal de Chagas --a levou a juntar mais forças para lutar pela vida de seu filho.

Dizendo-se crente na possibilidade de um milagre salvar a vida de Jhéck, R. afirmou ainda que seu coração lhe diz que ela tem de ficar ao lado do filho, apesar da resistência do ex-marido. "Eu quero o Jhéck feliz, do meu lado. Perdôo o pai dele pelo o que está fazendo. As pessoas têm todo o direito de errar, mas podem corrigir os erros", disse a costureira.

De acordo com R., no dia da morte de seu pai, João Alves de Souza, ela só pôde permanecer com o filho dez minutos no hospital, tempo que considerou suficiente para perceber que precisaria continuar lutando pela vida do filho. "Senti que não podia desistir de lutar, porque ele precisa de mim", afirmou.

Jhéck está internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do hospital Unimed por causa de uma doença metabólica degenerativa do sistema nervoso central, responsável pela perda dos movimentos dos braços, pernas e pescoço, além da fala e da visão. O quadro é irreversível, segundo o hospital, que fez o diagnóstico em conjunto com o HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto (cidade a 314 km da capital paulista).

Apoio externo

A dona-de-casa Maria Aparecida dos Santos de Souza, mãe de R., disse considerar inadmissível que o ex-genro queira autorização para realizar a eutanásia no neto. "Não é possível que um pai queira a morte do filho."

Oliveira disse ontem que não está preocupado com o que a ex-mulher e a família dela pensam. "Só me preocupo com a situação do meu filho, que para mim não está mais vivo naquela cama de hospital. Não desisti [de tentar a eutanásia] e não desistirei", disse ele, que já teve três boletins de ocorrência registrados na Polícia Civil de Franca por constrangimento ilegal e ameaça de agressão contra a ex-mulher.

Maria Aparecida afirmou que a filha está passando por dificuldades financeiras por ter deixado o emprego para cuidar do neto. A comoção causada pelo caso fez com que o hospital recebesse, nos últimos três dias, uma série de doações para serem encaminhadas à mãe de Jhéck: R$ 200 em dinheiro, dez pacotes de fralda, cinco cestas básicas e pelo menos 20 revistas religiosas, além de terços, flores e cartas.

"As pessoas que telefonam dizem que estão orando e pedem que o pai não prossiga com isso", afirmou Raquel Palma, coordenadora da área de atendimento do hospital.

 

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05/09/2005

Mãe de Jhéck sai do anonimato e diz que espera levar o filho para casa

FABRÍCIO FREIRE GOMES
enviado especial da Folha de S.Paulo a Franca



A costureira Rosemara dos Santos Souza, 22, saiu do anonimato anteontem, em entrevista na qual autorizou a divulgação de fotos suas e de seu nome.
Ela pedia que o seu nome fosse preservado desde o dia 30, quando o recepcionista Jeson de Oliveira, 35, pai de Jhéck Breener de Oliveira, 4, disse que iria à Justiça pedir a eutanásia do filho --o casal está separado.

Jhéck, internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Unimed, de Franca, sofre de doença degenerativa irreversível. Ela disse que tem esperança de levar o filho para casa. "Quero ver se compro o aparelho respirador."

Para o diretor clínico do hospital, Luís Fernando Peixe, o estado de Jhéck é estável, mas isso não significa que ele possa ir para casa. "É preciso ter pessoas especializadas acompanhando 24 horas por dia. No hospital, se acabar a energia, tem um gerador."

Souza disse ter ficado apavorada ao saber da doença de Jhéck. "Peço desculpas a Deus e ao meu filho por ter entrado em pânico, mas vou até o fim."

 

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06/09/2005

Família do pai de Jhéck é contra a eutanásia

MARCELO TOLEDO
da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto
 


A intenção do recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de buscar autorização judicial para realizar a eutanásia no filho Jhéck Breener de Oliveira, 4, não encontrou respaldo em sua família. Um dos irmãos quer, inclusive, que ele seja internado para fazer tratamento, pois estaria "desesperado".

De acordo com Erlan Soares de Oliveira, 34, irmão de Jeson, a família não está ao lado do pai de Jhéck porque tem formação católica e acredita que a eutanásia não é a melhor medida para a criança. "Acredito que ele está agindo movido pelo desespero. Somos contra a decisão dele e ficamos até meio constrangidos com isso, porque ninguém está apoiando o Jeson", afirmou Erlan.

De acordo com ele, o irmão está desesperado por não ter condições de ver o filho na situação em que está. Vítima de uma doença degenerativa do sistema nervoso central, Jhéck apresenta um quadro de saúde irreversível.

Internado há quatro meses de forma ininterrupta no CTI (Centro de Terapia Intensiva) Infantil do hospital Unimed de Franca, ele já perdeu os movimentos dos braços, das pernas e do pescoço, não fala, não enxerga, utiliza uma sonda para ser alimentado e respira com o auxílio de aparelhos.

"O Jeson está muito abalado e precisa de ajuda. Estamos tentando convencê-lo a procurar uma internação, porque está desorientado. Queria que ele desistisse e cuidasse da sua cabeça. Também quero o melhor para o meu irmão, que foi se afastando da família conforme a criança ficava doente", disse Erlan, que dos nove irmãos é o que tem maior ligação com o pai de Jhéck.

Jeson, por sua vez, disse que não tem ligação com a família e sabia que lutaria "contra o mundo". "Minha família não passa o que eu passo", afirmou.
Ontem, o pai de Jhéck disse à reportagem da Folha que já possui os documentos necessários para entrar na Justiça e pedir autorização para realizar a eutanásia no filho. São dois laudos, de hospitais de Ribeirão e São Paulo, segundo seu advogado, Marcos Antonio Diniz, que ontem à noite discutiria a estratégia com seu cliente.

Como a família de Jeson mora em Ribeirão Preto, o pedido pode ser protocolado na cidade --a intenção é evitar que a comoção causada pelo caso em Franca possa envolver o Judiciário.

Para fugir do assédio da imprensa e dos pedidos para que desista da ação judicial que enfrentava diariamente nas ruas de Franca, o pai de Jhéck disse que passou o final de semana em um sítio com amigos em Minas Gerais.

Doações

A família de Rosemara dos Santos Souza, 22, mãe de Jhéck, recebeu anteontem, em um programa de TV, uma ajuda de R$ 20 mil.

Segundo Rosemara, o dinheiro servirá para a compra de equipamentos necessários para levar Jhéck para casa --o custo é de R$ 40 mil a R$ 60 mil.

O pai do menino, disse ser contra as doações. "Não concordo. Queria que alguém fiscalizasse o uso do dinheiro", afirmo.

 

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07/09/2005

Pai desiste de pedir a eutanásia do filho

MARCELO TOLEDO
da Folha de S. Paulo



O recepcionista Jeson de Oliveira, 35, recuou e anunciou na tarde desta terça-feira que desistiu de tentar obter autorização judicial para realizar a eutanásia no filho Jhéck Breener de Oliveira, 4.

Jhéck sofre de uma doença degenerativa do sistema nervoso central cujo quadro clínico, irreversível, já causou a perda dos movimentos dos braços, das pernas e do pescoço, da fala e da visão. Ele está internado há quatro meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) infantil do hospital Unimed de Franca (SP), só se alimenta por meio de sonda e respira com a ajuda de aparelhos.

O anúncio foi feito durante uma entrevista convocada por Oliveira e seu advogado, Marcos Antonio Diniz, para falar sobre a estratégia que seria usada no pedido à Justiça, que seria protocolado ontem.

Oliveira, que está licenciado do trabalho, interrompeu a fala de Diniz no momento em que o advogado iria anunciar a ação cabível no caso e pediu para se reunir com ele em uma sala ao lado.

Cinco minutos depois, ele voltou e afirmou, com uma carta na mão, que estava desistindo da sua intenção, anunciada no último dia 29, para dar chances a sua ex-mulher e mãe de Jhéck, Rosemara dos Santos Souza, 22, que é contra a eutanásia. "Estou desistindo oficial e definitivamente. Quero dar chances à mãe e estou entregando meu filho a Deus", afirmou ele.

Em seguida, Oliveira deixou a sala correndo, sem dar entrevistas, esquecendo os óculos e deixando o advogado com os jornalistas. Foi o advogado quem revelou o teor da carta que teria provocado a desistência de Oliveira. "Era uma carta escrita pela Rosemara, como se fosse do Jhéck para o Jeson, pedindo desculpas por ter ficado doente e, com isso, ter separado os pais. Tinha, também, uma espécie de declaração de amor dela para ele", afirmou. Rosemara negou ter escrito a carta.

Decisão inesperada

"É inesperada essa decisão. Trabalhei hoje [terça-feira] até de madrugada e ele chegou a pagar um terço do valor combinado comigo. Não esperava nada disso", afirmou Diniz.

Antes de anunciar que tinha desistido de seu pedido, o recepcionista atacou a Justiça do país --por não autorizar a prática da eutanásia--, parte da imprensa e a sociedade da cidade de Franca, que o criticaram.

Sobraram críticas também para a família de Rosemara. "Exceto ela, os outros não se preocupam com a dor do meu filho e utilizam a doença do Jhéck para pedir dinheiro", afirmou ele. Até agora, cerca de R$ 21 mil foram obtidos com doações de todo o país para ajudar no tratamento.

O advogado disse que seu cliente não estava desequilibrado quando propôs a morte do filho por eutanásia. "Ele deve ter se arrependido. Em nenhum momento --e passamos parte da madrugada juntos-- ele esboçou que iria recuar", disse.

Ainda de acordo com o advogado, a defesa da eutanásia na Justiça iria se basear no conceito de vida. "Valeria a pena viver com aparelhos assim? Queríamos uma definição do conceito de vida. Ele está ou não vivo? Essa era a tese", afirmou Diniz.
 

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07/09/2005

Mãe diz esperar avanço da ciência para salvar Jhéck

da Folha de S.Paulo

Dizendo-se aliviada com a desistência do ex-marido de entrar na Justiça para obter autorização para realizar a eutanásia no filho, a mãe de Jhéck Breener de Oliveira, 4, Rosemara dos Santos Souza, 22, afirmou ontem que agora só espera o avanço da ciência para curá-lo.

"Foi a melhor notícia que poderia ocorrer. Não esperava que ele [Jeson de Oliveira] fosse desistir e creio que as orações tenham servido para isso. Estou aliviada demais", afirmou ela ao deixar o CTI Infantil do hospital para atender a Folha no fim da tarde de ontem.

Rosemara teve conhecimento da decisão do ex-marido por meio da reportagem.

Agora, sem precisar se preocupar com a decisão do marido, ela disse querer somente cuidar de Jhéck no hospital, como faz diariamente nos últimos quatro meses --só não foi ao CTI dois dias, na última semana, por causa do assédio da imprensa.

"Esperamos o avanço da ciência, da medicina, para descobrir uma forma de curar o meu filho. Agora vou cuidar dele com a cabeça fria e espero um dia poder levá-lo para casa. Infelizmente, agora não há condições para isso, mas espero um dia conseguir."

Segundo ela, o ex-marido deve ter desistido por causa da pressão que sofreu de todos os lados: as famílias de ambos eram contra, e Oliveira passou a ser pressionado nas ruas.

Anteontem, o pai disse à Folha que pensava em deixar Franca para conseguir viver em paz depois do episódio. "Só pode ter sido essa pressão e as orações que todos fizeram", disse Rosemara.

Ela também negou que tenha escrito uma carta a Oliveira no último Dia dos Pais e inserido no papel uma declaração de amor ao ex-marido, conforme afirmou o advogado dele, Marcos Antonio Diniz.

"Isso não ocorreu. Escrevi sim uma carta de amor, mas faz muito tempo, uns dois anos, época em que nem sabíamos direito o que o Jhéck tinha. Esse trecho em que o Jhéck 'falaria' sobre sua doença eu não escrevi", disse ela.

Roseli dos Santos Souza, irmã de Rosemara que a acompanha constantemente no hospital, afirmou que agora, enfim, a família terá tempo também para chorar a morte do pai, João Alves de Souza, ocorrida há 16 dias.

"Ainda nem tivemos tempo."

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17/02/06

Menino Jheck consegue mini-UTI e passa a viver em casa com a mãe 

Carlos Severino
Especial para o Diário de São Paulo



Garoto, que tem doença no sistema nervoso central, ficou 9 meses em hospital

Franca - Desde ontem, o garoto Jheck Brenner de Oliveira, de 6 anos, começou a morar em uma casa no Jardim Vera Cruz, periferia de Franca, a 410 km de São Paulo. Após nove meses, ele deixou a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Unimed da cidade e foi para a casa com a mãe Rosemara dos Santos Souza, de 22 anos.

Agora vive num quarto equipado com uma mini-UTI. Jheck tem uma doença irreversível e degenerativa do sistema nervoso central. Não anda, não fala, respira com a ajuda de aparelhos e se alimenta por uma sonda. Ele ficou conhecido em agosto do ano passado, quando o pai Jeson de Oliveira, separado de sua mãe, entrou na Justiça com um pedido de eutanásia para o filho.

Porém, quando a documentação estava pronta para ser protocolada, confirmando o quadro degenerativo e progressivo da doença, o pai desistiu de pedir a morte do garoto.

Ontem, ao chegar na casa, comprada com doações, a mãe abraçou Jheck e disse: “Viu meu filho? Eu disse que você não precisava ficar triste porque ia voltar para casa”.

A mini-UTI, que fica no quarto de Jheck, foi emprestada pela Santa Casa de Franca. Para ter o filho em casa, a mãe teve um intenso treinamento na UTI do Unimed. Ela aprendeu a operar o equipamento, que possui respirador mecânico e concentrador de oxigênio.

 

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17/02/06

Jheck deixa o Hospital e volta pra casa

Maisa Infante
Coordenadora de Produção

Fotos: Silva Júnior

Comércio da Franca


“Bem vindo Jheck!” A frase está escrita com letras coloridas e cheias de purpurina na porta do quarto onde o garoto Jheck Brenner de Oliveira, 5, está instalado desde as 15 horas de ontem. Depois de ficar 10 meses no Hospital Unimed, o menino voltou para casa e passará os dias ao lado da mãe, em um quarto com as paredes de cor azul clara e repletas de desenhos infantis.
Jhéck ficou conhecido nacional e internacionalmente depois que seu pai, Jeson de Oliveira, disse que pediria a eutanásia do filho. A notícia foi veiculada com exclusividade pelo Comércio da Franca no dia 30 de agosto e mobilizou jornais do Brasil todo. O garoto tem uma doença degenerativa rara e não movimenta os braços, as pernas nem o pescoço.

Mas ao olhar para ele é difícil acreditar que não entenda o que se passa à sua volta. Os olhos se movimentam à procura das vozes, principalmente a da mãe, Rosemara dos Santos Souza. “Tenho certeza que ele entende tudo”, diz. Foi ela quem lutou para levar o filho para casa. Foi ao programa do Gugu e conseguiu dinheiro para comprar o imóvel. Depois, com a ajuda do governo do Estado, conseguiu os aparelhos que ajudam Jheck a sobreviver. Teve ainda a solidariedade do Hospital Unimed, que forneceu a mão-de-obra para a reforma da casa.

É com muito carinho que Rosemara pretende lidar com o dia-a-dia difícil que enfrentará daqui para frente. Jheck não pode ficar sozinho em momento algum e possui horários rigorosos para comer e tomar os remédios. A alimentação é passada por uma sonda e precisa ser dada rigorosamente de três em três horas, a partir das 6 horas e até às 21 horas. Além disso, é preciso monitorar constantemente a temperatura corporal para saber que tipo de roupa colocar no garoto, a oxigenação e a pressão.

Mas nada disso tira a coragem da mãe de apenas 22 anos. O que ela mais queria, ficar com o filho ao lado, já conseguiu. Ao pé da cama, com o rosto colado no do filho, Rosemara diz, emocionada, que cumpriu a promessa que fez a ele: “Viu meu filho? Eu dizia que você não precisava ficar triste porque ia voltar para casa. Eu cumpri a promessa”.

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18/02/06

NOITE FELIZ
‘Parecia sonho’, diz a mãe de Jheck

Comércio da Franca - Maisa Infante

primeira noite do garoto Jheck Brenner de Oliveira, 5, em casa, foi inesquecível para a mãe, Rosemara dos Santos Souza. Depois de dez meses vendo o filho apenas durante algumas horas, no hospital, Rosemara nem sem preocupou em dormir. “A noite foi maravilhosa!”, disse na manhã de ontem, sem demonstrar cansaço. “Nem parecia de verdade. Quando eu cochilava, acordava assustada, olhava para ele e achava que eu estava sonhando”.
Desde sexta-feira, o garoto está em casa. Jheck tem uma doença degenerativa, não mexe os braços, as pernas e nem o pescoço. Estava há dez meses internado no Hospital Unimed. Depois de muita luta e contando com a solidariedade de diversas pessoas, Rosemara conseguiu reformar a casa e tirar o menino do hospital. Agora, o que ela mais quer é cuidar do filho e curtir os momentos ao seu lado.

A mãe tem certeza que Jheck entende tudo o que acontece a sua volta. Então, não poupa carinhos: quer vê-lo sempre arrumado, por isso se preocupa com a roupa que ele usa; abusa de frases como “ele não é lindo?” e “anjinho da minha mãe”, para as visitas que chegam a sua casa; e não economiza nos beijos e carinhos que oferece a ele. Para ela, ter que monitorá-lo 24 horas por dia, já que o menino precisa de aparelhos para sobreviver, não é nenhum sacrifício. “Eu estou muito feliz. Nem acredito que posso ficar o dia inteiro com ele”, disse. Ontem, Rosemara recebeu a ajuda de uma enfermeira do Hospital Unimed, que ficou na casa durante um período do dia, e do fisioterapeuta. “Agora no começo eles vão me ajudar”, explica.

Quando questionada se não tem medo de lidar com todos os aparelhos, que são imprescindíveis para a vida do Jheck, ela diz com convicção. “Não tenho medo. E acho que com a experiência vai ser cada vez melhor”.

 

23 / 02 / 06

Pai do menino Jheck fala novamente em eutanásia 

Carlos Severino
Especial para o Diário de São Paulo



Jeson diz que olhar do filho de 6 anos, portador de uma doença degenerativa sem cura, não tem vida. “Pedido de eutanásia não está descartado”, afirma

Menos de uma semana após o retorno do filho Jheck Brenner de Oliveira, de 6 anos, para casa, o pai, Jeson de Oliveira, voltou a falar em eutanásia, ou seja, uma autorização judicial para desligar os aparelhos que o mantêm vivo. O garoto é portador de uma doença degenerativa do sistema nervoso central progressiva e sem cura. Não fala, não move a cabeça, braços e pernas, respira com ajuda de aparelhos e come através de uma sonda.

( O site MedicinaIntensiva parabeniza o Jornal Comércio da Franca, Diário de São Paulo, Folha de São Paulo e IstoÉ nas brilhantes reportagens )