Pais viram "canguru" em UTI neonatal de
hospitais
26/06/2006
Folha Online - A cena
chama a atenção. Uma fila de homens com o figurino de enfermeiros se forma
na entrada da UTI neonatal. De personagens coadjuvantes, eles passarão a
protagonistas. Vai começar mais uma sessão do projeto pai-canguru.
Criado para que as mães de bebês prematuros ficassem junto aos filhos
enquanto eles ganham peso, passando o calor do corpo e a sensação de
proteção que tinham no útero, a técnica para desenvolver os recém-nascidos
tem atraído os pais para as UTIs neonatais de maternidades particulares,
principalmente de manhãzinha ou no fim da tarde, quando não estão
trabalhando.
Alguns, como Marcelo Souza, 36, não podem abrir mão do trabalho e adaptam a
rotina à nova função. Pai de Sophia e Kaio, que nasceram de 36 semanas na
terça-feira com 2,08 quilos e 2,23 quilos respectivamente, ele aderiu ao
programa.
Nesta semana, quando acaba sua licença, irá negociar com seu chefe para
continuar sendo um "pai-canguru". "É maravilhoso sentir a respiração e o
calor deles. Meus filhos estão lutando pela vida e vou ajudar o máximo que
puder."
Não há dados sobre a adesão dos pais ao projeto, mas sabe-se que 6,3% dos
bebês do país nascem prematuros. Isso fez o Ministério da Saúde implementar
o mãe-canguru no SUS em 1999. Algumas maternidades particulares já tinham o
programa antes, mas apenas há alguns anos ele começou a ser oferecido aos
homens.
"Quando a gente sugere, boa parte dos pais aceita na hora", diz Maria
Augusta de Freitas, superintendente da maternidade Pro Matre. "No começo
eles são desajeitados, têm medo de machucar o recém-nascido. Mas depois
pegam tanto jeito que trocam experiências. Quando algum bebê tem alta,
celebram com champanhe."
Pais-coruja como Marcelo Souza foram os que encorajaram o hospital São Luiz
a abrir o projeto para os homens. Os números atestam o sucesso do programa.
No ano passado, só 5% dos pais não aderiram. "Ficamos imaginando se faria
bem ao bebê, se ele criaria logo um vínculo com o pai", lembra a
coordenadora do curso de gestantes do hospital, Márcia Regina da Silva.