"Eu
amo a vida, senhor Presidente. A vida é a mulher que te ama, o vento nos
cabelos, o sol no rosto, um passeio nocturno com um amigo. Vida é também
a mulher que te deixa, um dia de chuva, o amigo que te trai. Não nasci
melancólico nem maníaco-depressivo - morrer faz-me horror, mas aquilo
que me resta já não é vida - é só um insensato encarniçamento em manter
activas as funções biológicas. O meu corpo já não é meu..."
Estas palavras de Piergiorgio Welby, de 60 anos, a sofrer de distrofia
muscular há décadas, endereçadas ao presidente italiano através de um
vídeo difundido na TV, convenceram o Chefe do Estado a pedir um debate
sobre a eutanásia.
"Só o silêncio sobre este assunto será injustificável", disse a
propósito o Presidente Giorgio Napolitano, que se confessou "tocado,
como pessoa e como presidente", numa missiva de resposta a Welby tornada
pública no sábado. As reacções da "católica Itália" (como se lê nos
takes das agências ) não se fizeram esperar. A ministra da Saúde,
Livia Turco, declarou não estar de acordo "com essa solução" (a
eutanásia) e esperar que o assunto não se resolvesse "com um referendo
popular a favor ou contra". Já a deputada católica do centro-esquerda
Paola Binetti afirmou que "os doentes não querem morrer, mas poder viver
o melhor possível e ter ao seu lado alguém que saiba avaliar por eles a
ajuda e o tratamento de que precisam".
Mas Piergioigio Welby, a quem na adolescência foi diagnosticada a doença
que desde há dois meses e meio o impede de respirar pelos seus próprios
meios e lhe reduziu a existência à completa imobilidade, ao silvo do
ventilador e "à espera de um comprimido para dormir na esperança de não
mais acordar", sabe exactamente o que quer. "O meu sonho, senhor
Presidente, a minha vontade, o meu pedido, está hoje na minha mente mais
claro e preciso que nunca: poder obter a eutanásia. Que também aos
cidadãos italianos seja dada a possibilidade que é concedida aos suíços,
aos belgas, aos holandeses." |