30/04/2007 - 09h52

Programa reduz mortes por infecção generalizada no Paraná

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Um programa inédito na rede pública de saúde do país conseguiu reduzir em 25% a mortalidade por sepse (infecção generalizada) nos quatro maiores hospitais do Paraná. O Brasil, ao lado da Malásia, é campeão mundial em número de mortes por sepse, com 250 mil óbitos por ano.

A doença, que afeta por ano 400 mil pessoas no país, tem um custo anual de R$ 17 bilhões ao sistema hospitalar --sendo que R$ 10 bilhões são gastos com pessoas que acabam morrendo. Os dados são do Ilas (Instituto Latino Americano de Sepse).

O foco do programa paranaense, bancado pelo governo estadual, é um pacote de tratamento que associa o pronto-atendimento ao paciente, medicação adequada e o emprego de terapias padronizadas, de acordo com o que preconiza os organismos internacionais.

Segundo o médico Álvaro Réa Neto, diretor dos centros de terapia intensiva do Hospital de Clínicas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), a redução da mortalidade por sepse foi verificada por um estudo epidemiológico, que durante cem dias acompanhou 180 pacientes graves internados nas UTIs do HC da UFPR, Hospital do Trabalhador (ambos em Curitiba), Hospital Universitário de Londrina e Hospital Regional de Cascavel.

O índice médio de morte por sepse nos hospitais passou de 64% para 48%. A estimativa é que 28 pessoas tenham sido salvas nesse período.

"A taxa de mortes ainda é alta. Há vários pontos que precisam ser abordados, como a conscientização da população e a capacitação dos médicos dos postos de saúde da periferia", diz Réa Neto.

Ele explica que quanto mais cedo o médico identificar a sepse e encaminhar o doente para um hospital referenciado, maior é a chance de sobrevivência. "Muitos dos doentes que chegam ao hospital com sepse vêm dos postos, onde os médicos não a identificaram."

Para o intensivista Eliézer Silva, da equipe da UTI do hospital Albert Einstein (SP) e presidente do Ilas, o principal problema para controle da sepse no país está nos prontos-socorros de hospitais públicos. "Há uma dificuldade de os pacientes serem adequadamente tratados em PSs tumultuados."

Silva conta que no Brasil acontece um fenômeno que difere dos outros países: a mortalidade por sepse dos doentes que vêm dos prontos-socorros é semelhante aos que já estão no hospital e, portanto, mais sujeitos a infecções e outras intercorrências. "Isso não acontece nos outros países. É um sinal que não estamos tratando bem o doente que chega ao PS."

No Einstein, por exemplo, foi montado o "time da sepse". Cada etapa do tratamento, como o tempo de permanência no pronto-socorro, da administração do antibiótico e o prazo para receber os exames do laboratório, é monitorada.

"Essa estratégia de monitorar e auditar todo processo dá oportunidade para equipe sempre tentar melhorar o atendimento daquele doente. Mas é fundamental que a instituição reaja a essas informações."

Pelo menos 30 instituições brasileiras públicas e privadas já foram treinadas pelo Ilas para conseguir diagnosticar e tratar precocemente a sepse, mas, segundo Silva, falta no país uma política nacional que padronize as condutas nos hospitais.

Ampliação

O programa do Paraná será agora ampliado para dez hospitais do Estado e, a médio prazo, deve chegar a outros 30. A mudança de padrão no atendimento possibilitou que a mortalidade por sepse na rede pública se equiparasse às da rede particular, segundo Réa Neto.

"Até então, a perda de pacientes com quadros clínicos de gravidade era duas vezes superior nos hospitais públicos. Mas, muitas vezes, o hospital público tem os mesmos recursos do hospital privado e um pessoal de bom padrão. O que falta é organizar os recursos e padronizar as condutas."

O modelo do Paraná começa a ser "exportado" para outros Estados. Em Brasília, por exemplo, a rede pública começa se organizar para implantar um programa semelhante envolvendo profissionais de todas as unidades dos hospitais no combate à doença, redução do tempo de internação em UTI e dos gastos com tratamento.