Tomógrafo de impedância elétrica desenvolvido pela USP monitora o pulmão de pacientes em tratamento intensivo MARCELO AMATO / RAUL GONZALES / CARLOS CARVALHO
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Rodolfo
Blancato / USP Online
rodolfo.barros@usp.br
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Desde 2006 o tomógrafo é utilizado experimentalmente no Hospital das Clínicas
(HC) da FMUSP para monitorar pacientes em tratamento intensivo que necessitam
de ventilação artificial. Nesses casos, a eficiência do tratamento
normalmente é medida através de exames de sangue que avaliam a quantidade de
oxigênio e gás carbônico presentes na circulação. Através da tomografia
de impedância elétrica é possível controlar melhor, de forma localizada, o
volume de ar injetado, já que a técnica gera uma imagem do fluxo de ar nos
pulmões.
“Vamos supor que todo o ar injetado vá para o pulmão direito, e nada para
o esquerdo. Isso não é bom. Mesmo que as taxas de oxigênio e gás carbônico
estejam boas, a médio prazo isso será ruim para o paciente. O equipamento dá
informações sobre a distribuição de ar dentro do órgão, algo que não se
consegue saber pelo teste de sangue. Em algumas situações, tais informações
podem ser salvadoras”, explica Carlos Carvalho, professor da FMUSP que
participou do desenvolvimento do aparelho.
Raul Gonzalez diz que as primeiras patentes sobre o assunto têm cerca de 20
anos e que hoje existem aproximadamente 30 grupos de pesquisa em todo o mundo
desenvolvendo a tecnologia. Alguns protótipos já foram comercializados em
pequena escala, para fins experimentais, assim como o da USP. Mas, segundo
Carvalho, essas máquinas são mais rudimentares, gerando imagens numa
velocidade menor e com uma resolução mais baixa. O equipamento lançado na
USP cria 50 imagens por segundo.
A
imagem obtida pela tomografia de impedância elétrica em um
porquinho-da-índia (acima) mostra que o ar está entrando por apenas
um dos pulmões, o que não é perceptível na que foi capturada pelo tomógrafo de raios-X (abaixo). |
Comparação
com parâmetros globais
Em
pacientes sob ventilação mecânica com lesão pulmonar aguda, mudanças da
impedância pulmonar ao final da expiração (medidas através da TIE)
foram comparadas com mudanças do volume pulmonar (VPFE) medido pela técnica de
washout de nitrogênio durante incrementos selecionados de PEEP [15]. As medidas
da impedância pulmonar ao final da expiração foram
calculados por 14
respirações consecutivas através da média dos valores ao longo do curso de
impedância pulmonar mínima. Assim, Hinz e colaboradores demonstraram
uma significante correlação linear entre
as alterações de impedância pulmonar e o VPFE (r ² = 0.95). As
medidas da impedância pulmonar ao final da expiração, no entanto, refletem
variações de impedância relativa em um corte transversal do tórax, enquanto
mudanças no VPFE avaliam o volume total do pulmão. Portanto, a heterogeneidade
regional da distribuição da ventilação deve ser responsabilizada pelos
resultados levemente diferentes entre as mudanças na impedância pulmonar ao
final da expiração e mudanças em VPFE, dependendo da região do pulmão
monitorada com TIE.
Comparação
com TC em pacientes com lesão pulmonary aguda (LPA) e síndrome da angústia
respiratória aguda (SARA)
Recentemente,
Victorino e colaboradores [5] compararam mudanças de impedância regional com
medidas de densidade do pulmão usando tomografia computadorizada (TC). Neste
estudo, uma manobra de inflação lenta foi registrada com TIE em 10 pacientes
sob ventilação mecânica com LPA/SARA. Posteriormente a mesma manobra de inflação
lenta foi repetida no exame da TC. Ambas técnicas detectaram uma distribuição
de ventilação heterogênea privilegiando áreas não-dependentes do pulmão
(proporção ventral/dorsal 82/18% e 75/25% para TIE e TC, respectivamente).
Mudanças de impedância relativa regional na TIE demonstraram uma correlação
excelente (R² = 0.92) com mudanças do conteúdo do ar estimados pela TC. Em
todos os pacientes com LPA/SARA, as mudanças em impedância mostraram boa
reprodutibilidade (DP 4.9%) entre medidas repetidas no mesmo paciente. A maior
limitação desse estudo foi que imagens de TIE e TC não foram obtidas
simultaneamente devido à interferência eletromagnética do equipamento durante
o exame de TC. Apesar dessa limitação metodológica, essas observações apóiam
fortemente que mudanças de impedância relativa regional estão correlacionadas
estreitamente com mudanças de volume regional do pulmão detectadas pela TC.
As
aplicações iniciais da TIE na medicina intensiva, validadas pelos estudos
citados acima, concentraram-se principalmente na ventilação e na sua distribuição.
Mais recentemente, outras ferramentas estão sendo estudadas como, por exemplo,
detecção do pneumotórax e avaliação de recrutamento e colapso pulmonares.
Essas ferramentas, em geral, são mais complexas e pressupõem a capacidade da
TIE de medir variações de conteúdo de ar local. Estudos recentes tambem tem
buscado avaliar a perfusão pulmonar através da TIE, inclusive vislumbrando a
possibilidade de estudar a distribuição ventilação-perfusão.
Uma
cuidadosa titulação da PEEP é importante para o sucesso das estratégias
ventilatórias baseada na abordagem do pulmão aberto (open lung strategy). Parâmetros
globais tais como curvas pressão-volume ou complacência do sistema
respiratório são falhos em representar o que acontece nas regiões mais
basais do pulmão .
Em
um estudo similar, Luespschen e colaboradores mostraram que o centro de
gravidade das imagens de ventilação move no sentido dorsal durante o
recrutamento do pulmão e no sentido ventral durante o colapso pulmonar. Outros
autores também utilizaram o centro de gravidade da ventilação para avaliar o
recrutamento pulmonar . Em experimento com 16 porcos recém-nascidos, lesão
pulmonar induzida por lavagem salina, Frerichs e colaboradores, mostraram que a
TIE permite a visualização de efeitos da LPA, do recrutamento pulmonar, do
efeito da administração de surfactante e de estratégias de ventilação mecânica.
Eles mostraram que a lesão pulmonar desloca a ventilação ventralmente e o
recrutamento do pulmão restaura o centro da ventilação para uma posição
normal. Depois da administração de surfactante, a ventilação muda
ventralmente após
Outros
métodos para avaliar o recrutamento do pulmão usando TIE tem sido propostos.
Recentemente Wrigge e colaboradores [20*] compararam TIE com TC dinâmica em 18
porcos divididos em três grupos (controle, lesão direta e lesão pulmonar
indireta). A TIE permitiu a monitorização em tempo real da distribuição da
ventilação regional. Durante uma insuflação lenta, o recrutamento regional
foi detectado com atraso entre a inspiração e o começo da insuflação
regional (índice de ventilação com atraso). Hinz e colaboradores
monitoraram 20 pacientes sob ventilação mecânica com LPA/SARA e mostrou que o
comportamento temporal da impedância regional foi heterogêneo e
significantemente diferente comparada com aquele do pulmão inteiro. Esses
achados sugeriram a ocorrência de hiperdistensão e recrutamento cíclicos em
diferentes regiões do pulmão.
Embora
titulação da PEEP cuidadosa seja importante, as condições do pulmão
frequentemente se modificam e a PEEP selecionada poderá não ser suficiente
para manter o pulmão aberto todo o tempo, especialmente se uma breve
despressurização do pulmão ocorrer. Despressurização é particularmente
comum quando é necessária aspiração do tubo endotraqueal para
limpeza de secreções. Para estimar o desrecrutamento causado por um sistema
fechado de aspiração, Wolf e colaboradores estudaram
seis
crianças com SARA sob ventilação mecânica controlada por pressão e
continuamente monitorada por TIE. Eles mostraram que o volume dos pulmões
diminuiu em média de 5.3mL/Kg depois de três manobras de aspiração.
Inesperadamente, eles mostraram que as regiões mais dorsais do pulmão eram as
menos afetadas pelo desrecrutamento. Esse achado sugere a presença de ar
represado nas regiões dependentes do pulmão.