'Filha' das enfermeiras

Bom Dia Bauru

Menina de 1 ano e 7 meses vive desde o nascimento em uma UTI neonatal; abandonada pela mãe, espera por adoção

Luís Cardoso/Agência BOM DIA 

Maria (nome fictício) no berço entre incubadoras com bebês: vida entre médicos, enfermeiras e crianças recém-nascidas 


É uma história comovente e reveladora das dificuldades que envolvem a adoção de uma criança no Brasil.

Maria (o nome é fictício), uma menina de 1 ano e 7 meses, vive desde o nascimento numa UTI neonatal da região.

Abandonada pela família, ela cresce entre médicos, enfermeiras e incubadoras que abrigam bebês recém-nascidos prematuros ou com problemas de saúde.

A criança nasceu prematura, no sétimo mês de gestação. Foi registrada pela mãe, uma adolescente de 16 anos que a abandonou logo em seguida, ao ser informada que precisaria passar um período ao lado da menina num hospital.

Como a maioria dos prematuros, Maria nasceu com os pulmões imaturos. No caso dela, os medicamentos não conseguiram promover a expansão pulmonar. Ela foi submetida a uma traqueostomia e até hoje depende de ventilação mecânica para respirar.

A criança precisa de cuidados médicos o tempo todo. Não pode ser levada para um abrigo, mas poderia ser internada na ala pediátrica de algum hospital, desde que tivesse um familiar para acompanhá-la.

Saudade
Sob responsabilidade da Justiça, Maria espera por uma adoção. Por causa da saúde frágil e dos cuidados que requer, até agora não conseguiu despertar o interesse de nenhum casal.

Em geral, os casais que preenchem os cadastros de adoção pedem bebês recém-nascidos, brancos e sem problemas de saúde.

Só em Bauru, por exemplo, cerca de 130 casais estão na fila de espera. Em Botucatu são pelo menos 40 e em Lençóis Paulista, de 12 a 15.

Maria é “filha” das enfermeiras que trabalham na UTI neonatal. Sai para rápidos passeios quando está bem, pede colo estendendo os bracinhos, dá tchau e até faz gracinhas.

Tem o desenvolvimento mais lento que as crianças sem problemas de saúde, não fala, mas já fica em pé no berço e mostra necessidade de se comunicar.

“Tenho medo do dia em que ela for embora”, diz uma das enfermeiras. A profissional torce para Maria encontrar uma família, mas sabe que vai sofrer de saudade.

Segredo de Justiça preserva nome
O nome da menina abandonada e o do hospital não são divulgados por causa do segredo de justiça, comum aos processos de adoção.

O BOM DIA optou por contar a história para mostrar que crianças com problemas de saúde dificilmente encontram novas famílias e, como no caso da pequena Maria, podem ser obrigadas a passar parte da infância sem o carinho de pai e mãe.

O caso fictício de Clara, a menina com Síndrome de Down adotada pela personagem de Regina Duarte na novela “Páginas da Vida”, provocou um debate nacional sobre a adoção de crianças especiais. O “Globo Repórter”, programa da TV Globo, mostrou sexta-feira que as escolhas dos futuros pais não coincidem com as características da maior parte das crianças que esperam pela adoção. Eles querem bebês recém-nascidos, brancos e saudáveis.