Donos
de animais recebem assistência psicológica para lidar com doenças graves e
morte de cães e gatos
Kiyomori Mori
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A
aposentada Olga Ayres de Toledo, 80, acaricia o fox paulistinha
Bruce, 13, acompanhada pela psicóloga Clarissa Castilho, na UTI
canina |
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TERAPIA
EM DOSE DUPLA
Revista Folha: Março /2007 - por Roberto de Oliveira
Pela primeira vez em 13 anos de convivência, o fox paulistinha Bruce
comemorou seu aniversário separado da dona, Olga Ayres de Toledo, 80.
Na última segunda-feira, ela teve poucos segundos para acariciar o animal,
sedado, que, do outro lado de um vidro de 3,5 milímetros da UTI canina,
recebia soro e tinha os batimentos cardíacos monitorados. Fora da sala de
emergência, o foco de atenção se voltou para a aposentada. Por mais de
uma hora, Olga recebeu acompanhamento de uma psicóloga.
Para ela, a aposentada contou, aos prantos, que seu desespero tinha um
motivo forte que atormenta a maioria dos donos de animais de estimação: o
medo da perda. O fox paulistinha chegou ao hospital desmaiado. Ele sofre
de insuficiência cardíaca, agravada por uma grave pneumonia.
"Geralmente, os casos de doenças crônicas envolvem um longo vínculo entre
dono e bicho. O maior temor é que essa história de vida seja interrompida
repentinamente", explica a psicóloga Clarissa Castilho, 32.
Um dos mecanismos utilizados por Clarissa numa hora dessas é incitar os
donos a relembrarem bons momentos ao lado de seus pets. E, a partir daí, dar
voz a eles.
Em meio a lágrimas e risos, Olga desabafa: "Desde pequenino, Bruce dorme ao
meu lado. Eu me afastei de amigos que não gostam de bichos e inventei para
parentes que tenho medo de viajar de avião só para não deixá-lo sozinho".
Suporte emocional
Outra manifestação comum em situações emergenciais é o sentimento de
culpa. Perguntas como "Será que eu cuidei direito?" ou "Procurei ajuda
na hora certa?" costumam rondar a cabeça dos proprietários.
"O diálogo é uma estratégia para tentar expulsar esse fantasma", conta a
também psicóloga Simone Cortez, 30. Ela e Clarissa trabalham no Hospital
Veterinário Sena Madureira (zona sul), que tem assistência psicológica aos
proprietários de animais em tratamento crônico ou estado crítico. O
serviço é oferecido gratuitamente durante a internação ou quando o animal
precisa ficar sob cuidados por um período longo.
Segundo a psicóloga Clarissa, casos que envolvem crianças e idosos,
principalmente os solitários em que o bicho é o único companheiro, exigem
mais atenção.
No domingo passado, a estudante Carla, 7, ficou "transtornada e fora de si",
na definição na mãe dela, a advogada Renata Guatura, 41, ao ver a pinscher
Kelly Cristina, 2, contorcer o corpo e espumar a boca, depois de ter
engolido veneno de rato.
"Mostramos à criança que já ocorreram internações semelhantes e que hoje os
animais estão vivos e sadios. Que o mesmo pode ocorrer com nós, humanos, se
ingerirmos comida estragada, por exemplo", conta Simone.
"O proprietário retoma a calma, passa a se interessar melhor pela situação
clínica do bicho e tem de volta seu otimismo", diz ela.
Empolgada, Carla conta que retomou o seu. "As psicólogas me ajudaram a
enxergar que a minha cadela podia ficar boa. E foi o que aconteceu."
Delicado mesmo, confessam as psicólogas, é acompanhar o processo de luto e
eutanásia. "Há aqueles que querem se despedir do bicho, os que preferem não
ver, os que se calam e os que só choram", diz Simone.
Quando as psicólogas percebem que os donos estão muito perturbados
emocionalmente, as profissionais podem sugerir que eles busquem auxílio
terapêutico fora do hospital veterinário.
Nem sempre o problema psicológico acomete só os donos. A instrutora de
equitação Ligia Cardoso Coelho, 44, perdeu sua gata siamesa Pipoca, 14, há
cerca de um mês. A partir daí, sua outra gatinha, Miúcha, 7, da mesma raça,
passou a ter problemas respiratórios. O quadro clínico aparentava sinusite,
mas os exames revelaram que Miúcha não tinha nenhum problema.
Com o auxílio das psicólogas e da equipe veterinária, Ligia descobriu que a
siamesa, na verdade, estava somatizando a perda da antiga companheira.
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