Fonte: Diário do Nordeste - 16/Abril/2007
Patrícia Jereissati coordena a emergência do Hospital Albert Sabin (Foto: Gustavo Pellizzon)
O maior
problema do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) é a superlotação. Essa é a
avaliação da pediatra e coordenadora da Emergência da unidade, Patrícia
Jereissati Sampaio. Até a primeira semana de abril, todos os 32 leitos das
UTIs neonatal e pediátrica da unidade de saúde estavam ocupados.
Mais uma vez, a exemplo do que acontece na Maternidade Escola Assis
Chateaubriand e no Hospital Geral César Cals, a participação de pacientes
oriundos da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e do Interior do Estado
foi significativa para a sobrecarga da unidade de saúde. Dos 7.970
atendimentos em janeiro deste ano, 36% foram de pacientes da RMF e do
Interior. Em fevereiro, o percentual foi de 31% de um total de 7.071.
Mas, na média mensal, 50% das internações e 10% dos atendimentos na emergência
são de pacientes de fora da Capital, segundo levantamento da direção do
hospital. “O problema se agrava porque as pessoas que vêm para Fortaleza não
passam pela Central de Leitos do Estado, órgão que poderia distribuir melhor
esses pacientes, evitando a superlotação em determinados hospitais como o Hias”,
afirma Patrícia Jereissati Sampaio.
Repetem-se também, segundo a pediatra, os motivos da transferência. Ao lado
do pré-natal mal feito, a falta de assistência na sala de parto e a
precariedade do atendimento de crianças na atenção básica aparecem como
“vilões” da saúde materno-infantil no Interior e na Região Metropolitana de
Fortaleza.
Ainda de acordo com Patrícia, as infecções respiratórias e as gastroenterites,
enfermidades mais freqüentes entre as crianças atendidas no hospital, teriam
grandes chances de serem resolvidas nas unidades de saúde espalhadas pelo
Estado.
“A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (Aidpi) é uma das
estratégias que poderiam ser adotadas por esses municípios. Por ela, o
profissional teria condições de detectar precocemente os sintomas, evitando
que essas doenças cheguem a estágios avançados”, avalia.
Dos 2.995
atendimentos feitos na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) em 2006,
66,7% foram de pacientes oriundas da Região Metropolitana de Fortaleza e do
Interior do Estado. Desses, de acordo com a diretora da Meac, Zenilda Vieira
Bruno, a maioria vem de municípios como Maracanaú, Maranguape e Caucaia. “Só
esses três foram responsáveis por 868 dos atendimentos de 2006”, afirma.
O fato, segundo Zenilda, vem contribuindo para a superlotação da Maternidade
que, por sua vez, aumenta os riscos de infecção hospitalar. Hoje, os 150
leitos oferecidos nas unidades de alto, médio e baixo riscos estão todos
ocupados. A demanda alta tem exigido também um número maior de profissionais
envolvidos - para casa dois bebês a mais, deve haver um auxiliar de enfermagem
extra - e gastos adicionais com, por exemplo, medicamentos.
“A transferência de pacientes de outras regiões do Estado para cá tem,
conseqüentemente, diminuído a oferta de vagas para a Capital”, acrescenta a
diretora da Maternidade. Como soluções, Zenilda aponta investimentos na
Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (Aidpi) perinatal - o que
pode, por exemplo, melhorar a qualidade da assistência pré-natal no Interior -
e o aumento do número de UTIs neonatais nos municípios dessa região.
“Para se ter uma idéia, Sobral não tem UTI neonatal. O que há são leitos que
se assemelham a uma, mas que não são registrados como tal. E, apesar da
cobertura de 97% no Estado, há ainda muito o que se fazer pela qualidade do
atendimento pré-natal”, avalia.
Lotação: segundo Zenilda Bruno ( Diretora da Maternidade ), Maracanaú, Maranguape e Caucaia são os maiores emissores de pacientes (Foto: Gustavo Pellizzon)
A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand tem 21 leitos de UTI neonatal e está com mais de 100% de ocupação (Foto: João Luís)
Na
primeira crise de leitos de UTI neonatal de 2007, três bebês esperam por
transferência na Maternidade-Escola
Há três dias a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal da
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac) está com a capacidade de
atendimento superada. Todos os 21 leitos da UTI estão ocupados e mais oito
foram improvisados para atender a demanda, totalizando 29 bebês internados, a
maioria prematura.
Apesar da situação não ser grave, se comparada a episódios anteriores,
preocupa, pois até a tarde de ontem, não havia nenhum leito disponível na rede
pública e também na privada para receber os bebês que podem ser transferidos
para outras unidades. No Hospital e Maternidade César Cals a situação não é
diferente. De acordo com a Secretaria de Saúde do Município, a unidade está
dentro do limite de lotação permitido, com 25 pacientes na UTI neonatal.
A diretora da Meac, Zenilda Vieira Bruno, explica que a maternidade está
sempre com os leitos lotados. Ela avalia que a lotação de até 25 bebês é a
ideal para oferecer atendimento sem risco. Acima desse número, frisa ela, a
situação deve ser avaliada com cautela e o trabalho dos profissionais na
unidade se torna mais cuidadoso. O grande risco oferecido aos pequenos
pacientes é a possibilidade de contrair infecções hospitalares.
Uma das medidas tomadas dentro da unidade foi a colocação de mais enfermeiras
e auxiliares para cuidar dos bebês e assim manter um controle rígido contra as
infecções. “São necessários mais leitos de UTI neonatal na cidade”, observa a
médica. Além dos leitos de terapia intensiva, a Meac também tem uma unidade de
média complexidade, apta a receber os recém-nascidos que tiverem complicações
ao nascer. Essa ala também está trabalhando com a capacidade máxima de
atendimento.
Na tarde de ontem, 14 bebês estavam recebendo cuidados no local. Um deles é o
filho da doméstica Antônia Cláudia Barbosa Maciel, de 37 anos. O pequeno Luiz
Fernando Barbosa Maciel nasceu na última segunda-feira, depois de oito meses
de gestação. Cláudia Maciel veio do distrito de Antônio Diogo, em Redenção,
para se internar na Meac por ter apresentado um quadro de eclampsia. O parto
ocorreu bem, mas Luiz Fernando teve que ficar internado por conta de uma
infecção urinária e de icterícia (pele amarelada).
Através do vidro, a mãe observa os movimentos do seu terceiro filho. “Eu já
chorei tanto, queria levar ele pra casa logo”, desabafa. O bebê, que nasceu
com um pouco mais de dois quilos, terá de ficar internado até atingir o peso
ideal e melhoras das enfermidades.